sábado, 24 de outubro de 2009

Música Fúnebre - Castro Lobo & Ferreira Coutinho & Nunes Garcia

A Liturgia dos Defuntos, no Rito Romano, possui oito cerimônias distintas, nas quais participava música polifônica nos séculos XVIII e XIX, cada uma delas com estrutura e textos específicos.

Inicialmente, as Exéquias (Funeral ou Ofício de Sepultura), seguidas pelo Officium Deffunctorum, este constituído de Vesperas, Matinas e Laudes. Há também a Missa (que pode ser dos Funerais, de Aniversário, Quotidiana ou pela Comemoração dos Fiéis Defuntos), a Absolvição e Inumação após a Missa (ou Encomendação Litúrgica de Adultos), as Cinco Absolvições (destinadas às exéquias solenes) e o Ofício de Sepultura de Crianças (ou Encomendação Litúrgica de Anjinhos). No universo luso-brasileiro, entretanto, foram comuns três outras cerimônias fúnebres, não prescritas no Rito Romano: a Encomendação Paralitúrgica de Adultos (ou Memento), a Encomendação Paralitúrgica de Crianças e as Estações na Comemoração dos Fiéis Defuntos.

Para este volume, foram selecionadas composições presentes em manuscritos musicais do Museu da Música de Mariana, destinadas a quatro cerimônias fúnebres, três delas litúrgicas (Matinas, Encomendação de Anjinhos e Absolvição e Inumação após a Missa) e uma paralitúrgica (Memento).

Pe. João de Deus Castro Lobo (Vila Rica, 1794 - Mariana, 1832) - Seis Responsórios Fúnebres
Próprio das Matinas dos Defuntos, os Seis Responsórios de Castro Lobo são obra de fôlego, de grande maturidade e dramaticidade. São várias as tonalidades utilizadas, embora cada Responsório tenda a ser uniforme na apresentação de tais tonalidades, exceto os Responsórios I e VI. A textura é predominantemente homófona nas quatro vozes, destacando-se, no entanto, algumas seções a solo, como o Qui Lazarum e o De profundis, para o baixo.

01. Seis Responsórios Fúnebres - 1. Credo quod Redemptor. Et in carne. Quem visurus. Et in carne
02. Seis Responsórios Fúnebres - 2. Qui Lazarum. Tu eis, Domine. Qui venturus. Tu eis, Domine
03. Seis Responsórios Fúnebres - 3. Domine, quando veneris. Quia peccavi. Commissa mea. Quia peccavi. Requiem æterna. Quia peccavi
04. Seis Responsórios Fúnebres - 4. Memento mei. Nec aspiciat. De profundis. Nec aspiciat
05. Seis Responsórios Fúnebres - 5. Hei mihi! Miserere mei. Anima mea. Miserere mei
06. Seis Responsórios Fúnebres - 6. Ne recorderis. Dum veneris. Dirige, Domine. Dum veneris. Requiem æternam. Dum veneris

Florêncio José Ferreira Coutinho (c1750-1819) - Encomendação Para Anjinhos
O autor desta obra foi trompista, cantor (baixo), mestre de música e compositor, citado com frequência na documentação de Vila Rica, onde pertenceu e prestou serviços musicais a várias irmandades, tendo composto também a música das óperas reais de 1795, infelizmente perdida.
07. Encomendação para Anjinhos - 1. Antífona e Salmo 112
08. Encomendação para Anjinhos - 2. Kyrie - Kyrie.
09. Encomendação para Anjinhos - 3. Antífona do Salmo 148 - Juvenes est virgines.

Pe. José Maurício Nunes Garcia (1767-1830, Rio de Janeiro, RJ) - Matinas e Encomendação de Defuntos
Composta em 1799, associada a uma Missa de Defuntos, esta obra é de grande austeridade e apresenta seções concisas e homófonas nas quatro vozes. Apesar disso, existe uma certa variedade nas tonalidades utilizadas. É notável a presença de certos motivos empregados em obras fúnebres posteriores do mesmo compositor.
10. Matinas e Encomendação de Defuntos - Responsório I
11. Matinas e Encomendação de Defuntos - Responsório II
12. Matinas e Encomendação de Defuntos - Responsório III
13. Matinas e Encomendação de Defuntos - Responsório IV
14. Matinas e Encomendação de Defuntos - Responsório V
15. Matinas e Encomendação de Defuntos - Responsório VI
16. Matinas e Encomendação de Defuntos - Responsório VII
17. Matinas e Encomendação de Defuntos - Responsório VIII
18. Matinas e Encomendação de Defuntos - Responsório IX
19. Matinas e Encomendação de Defuntos - Kyrie.
20. Matinas e Encomendação de Defuntos - Requiescat.

Pe. José Maurício Nunes Garcia - Memento
O mais elaborado dos Mementos aquí presentes, é modulante em três de suas seções (Nec aspiciat, Kyrie e Requiescat) e exibe nuances como, por exemplo, os marcatos incisivos que sublinham a palavra clamavi e o piano sempre que matiza o canto do Requiescat.
21. Memento - I - Memento. Nec aspiciat. De profundis. Nec aspiciat
22. Memento - II - Kyrie
23. Memento - III - Requiescat

Anônimo Mineiro séc XVIII - Memento
O mais conciso dos Mementos aqui apresentados, possui seções que variam de apenas cinco a dez compassos, sendo duas delas modulantes de Si Bemol maior a Sol menor (Nec aspiciat e Requiescat). Como também é característico, prevalece a homofonia não imitativa, muito embora a maior independência entre as quatro vozes no expressivo Requiescat seja digno de nota, assim como a rápida diferenciação de textura que realça a palavra clamavi, no De profundis.
24. Memento - I - Memento. Nec aspiciat. De profundis. Nec aspiciat
25. Memento - II - Kyrie
26. Memento - III - Requiescat

Anônimo Mineiro séc XVIII - Memento
Pode-se destacar nesta peça, além de uma ênfase sobre a tonalidade da mediante, a predominância de ritmos pontuados no Nec aspiciat, o uso menos comum da métrica ternária no Kyrie e a presença de singelas imitações no Requiescat, sublinhando a expressão in pace.
27. Memento - I - Memento. Nec aspiciat. De profundis. Nec aspiciat
28. Memento - II - Kyrie
29. Memento - III - Requiescat

Pe. José Maurício Nunes Garcia - Libera Me
Esta obra, destinada à Encomendação Litúrgica de Adultos, contém o Responsório Libera me e o Kyrie, mas não o Requiescat, também prescrito para essa cerimônia.
30. Libera Me - I - Libera me
31. Libera Me - II - Kyrie

Pe. José Maurício Nunes Garcia - Memento
Trata-se de peça curta, austera e uniforme na tradicional tonalidade de Sol menor.
32. Memento - I - Memento. Nec aspiciat. De profundis. Nec aspiciat
33. Memento - II - Kyrie
34. Memento - III - Requiescat

Pe. José Maurício Nunes Garcia - Ego sum resurrectio
Esta singela Antífona do Benedictus (cantada na Encomendação Litúrgica de Adultos e nas Laudes dos Mortos), apesar de curta, apresenta grande variedade de texturas: homofonia e polifonia nas quatro vozes, além de um tratamento de vozes aos pares, que foge ao padrão mais comum da produção mauriciana. O tratamento tonal é simples, destacando-se o cromatismo do texto non morietur in æternum.
35. Ego Sum Resurrectio

(adaptado do encarte, incluído no link abaixo)

Conjunto Calíope & Orquestra Santa Tereza
Regência Júlio Moretzsohn
Museu da Música de Mariana - 2003
Projeto Acervo da Música Brasileira - Vol. IX - Música Fúnebre

BAIXE AQUI


FONTE: http://pqpbach.opensadorselvagem.org/

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