quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Ofício das Violetas e os Motetos para a Procissão de Ramos - Madrigal e Orquestra de Câmara do Departamento de Música da ECA-USP

As obras de Lobo de Mesquita e de Dias de Oliveira encontram-se nos vários arquivos das Corporações musicais espalhadas por todo o Estado de Minas Gerais e norte do de São Paulo. Este é o caso da Missa Fúnebre de Lobo de Mesquita, da qual conhecemos quatro cópias: a do Museu da Música de Mariana (código F-1), a do Arquivo da Orquestra e Banda Lira Ceciliana de Prados e as de São João del Rei: uma no arquivo da Orquestra Lira Sanjoanense e a outra no arquivo particular de Aluisio José Viegas. O título Ofício das Violetas só consta nos manuscritos que estão em Prados e, provavelmente, foi dado, pelo autor dessas cópias, Joaquim de Paula Souza Bom Sucesso. Foram estes últimos que Cecília L. Tuccori escolheu para a montagem da partitura. Copiados entre 1798 e 1803, além de muito claros, esses manuscritos demonstram fidedignidade de referências por parte de Paula Souza. O apelido “violetas” deveu-se ao fato de a instrumentação de Emerico empregar violas na orquestra, suprimindo o uso de violinos.
Das nove Lições que compõem o Ofício de Defuntos, Lobo de Mesquita musicou apenas a primeira, quarta e sétima, não colocando em música nem os Responsórios e nem a Encomendação. Aqui apresentamos somente o lnvitatório do Oficio e a Missa de requiem, sem a Sequentia  (Dies irae), que provavelmente nunca foi escrita pelo autor. Nos manuscritos de Mariana lê-se: “Sequentia fica para os Padres”. Esta observação, aliada ao fato de Emerico não ter incluído os Responsórios em sua obra, confirma a tendência do compositor de intercalar trechos em gregoriano durante a realização do Ofício. Sua escrita é clara, cuidada, vigorosa, sem recorrer a inúteis complexidades harmônicas ou rítmicas. As vozes do coro e da orquestra dialogam alternadamente; os instrumentos trabalham sempre aos pares, geralmente em terças paralelas, sendo raros os momentos em que um dos elementos do par sobressaia como solista. Por outro lado, a voz solista frequentemente dialoga com o coro e com os instrumentos afim de contrapor maior ou menor massa sonora. Notem-se estes procedimentos principalmente no Kyrie, em que o diálogo de soprano e contralto com as duas violas é feito através da melodia “espelhada”: as vozes apresentam o tema, que é respondido pelas cordas, ao contrário. Ou entao no Benedictus, o “Duo afetuoso”, que na verdade é um “solo” de dois duetos: as violas se contrapõem ao dueto das vozes apoiadas nas flautas.
Os três Motetos para a Procissão de Ramos, em sol maior, foram feitos para serem cantados na rua. A cópia respeitada para a presente gravação também é do arquivo pradense, feita por Paula Souza e recopiada por José Steves da Costa e Antonio Américo da Costa. Liturgicamente fazem parte da narração da entrada de Jesus em Jerusalém segundo São Mateus. A Antífona Cum appropinquaret é cantada durante o trajeto da procissão; quando ela volta para a frente da lgreja canta-se o Hino Gloria Laus e quando as portas são abertas, o Responsório Ingrediente Domino. A escrita dos três Motetos denuncia a outra profissão do compositor: organista. Não há independência das vozes, pois a escrita é cordal, por acordes; as vozes caminham sempre juntas e, às vezes, há pequenos duetos em terças paralelas. Se não fosse pela funcionalidade do texto na cerimônia religiosa, poderiam ser tocados num órgão sem perda de brilho. A simplicidade das obras evidencia o aspecto estritamente prático dessa música: ser cantada pelo coro da Irmandade, bem como pelos fiéis que participavam da procissão.
Os Motetos de Manoel Dias de Oliveira
Os Motetos de Manoel Dias de Oliveira tornaram-se bem mais populares que os de Emerico, pelo menos no que diz respeito às suas presenças nos arquivos das Corporações musicais de Minas Gerais. Eles são encontrados não só em Prados, Tiradentes e São João del Rei, como também em Pouso Alto, Aiuruoca, Mariana e Diamantina. As cópias empregadas aqui foram as do arquivo de Prados, principalmente por causa de uma particularidade: a existência de duas partes de baixo cifrado, originals do século XVIII e, portanto, contemporâneas do compositor. A escrita de Manoel Dias de Oliveira possui características próprias e muito marcantes. Aí são notáveis a harmonia, complexa, cheia de tensões e de surpresas, o emprego dramático do silêncio e um agenciamento melódico rico o suficiente para irrigar até mesmo a voz do baixo.
(texto parcial de Flávia Camargo Toni, extraído do LP)
José Joaquim Emerico Lobo de Mesquita (Vila do Príncipe, 1746- Rio de Janeiro, 1805)
01. Missa de Requiem (Ofício das Violetas) 1. Invitatório
02. Missa de Requiem (Ofício das Violetas) 2. Requiem
03. Missa de Requiem (Ofício das Violetas) 3. Kyrie
04. Missa de Requiem (Ofício das Violetas) 4. Offertorio
05. Missa de Requiem (Ofício das Violetas) 5. Sanctus
06. Missa de Requiem (Ofício das Violetas) 6. Agnus Dei
07. Missa de Requiem (Ofício das Violetas) 7. Communio
08. Moteto para a Procissão de Ramos - Cum appropinquaret
09. Moteto para a Procissão de Ramos - Gloria Laus
10. Moteto para a Procissão de Ramos - Ingrediente Domino

Manoel Dias de Oliveira (São José del Rey [Tiradentes], 1735-1813)
11. Moteto - Domine Jesu
12. Moteto - Popule Meus
13. Moteto - Bajulans
14. Moteto - Miserere

Missa de Requiem e Motetos - sem data (alguém sabe?)
Madrigal e Orquestra de Câmara do Departamento de Música da ECA-USP. Regente: Olivier Toni (faixas 01 a 10)
Madrigal do Departamento de Música da ECA-USP. Regente: Marco Antonio da Silva Ramos (faixa 11 a 14)

Link para download
http://rapidshare.com/files/368626109/AVI-100329-Missa_de_Requiem-Motetos-ECA-USP.rar

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Um comentário:

  1. Prezado Rafael:
    Parabéns pela divulgação da "Missa de Réquiem" ("Ofício das Violetas"), que considero a mais impressionante obra do grande artista mulato mineiro, o maior patrimônio da música de Minas Gerais.
    Mozart assinaria com satisfação muitas obras do genial mineiro.
    Celso do Lago Paiva
    Curvelo MG
    https://www.facebook.com/celso.paiva.948

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